Sobre comunicação, sacolas plásticas e sustentabilidade

Sobre comunicação, sacolas plásticas e sustentabilidade

Já faz alguns anos que a cidade de São Paulo vive a polêmica da distribuição das sacolas plásticas nos supermercados – com várias tentativas frustradas e, finalmente, a adoção das medidas por meio da  Lei Municipal 15.374, que entrou em vigor em 05/04/2015. A legislação definiu que estes estabelecimentos devem entregar sacolas em duas cores distintas (verde e cinza – cada cor para um tipo diferente de resíduo), fabricadas com material biodegradável, dimensões padronizadas, orientações nas embalagens e, até mesmo, estabelecendo multa para comerciantes e consumidores que não seguirem as regras. 

Desde antes da lei entrar em vigor, entretanto, o que se verifica é falta de esclarecimento para a população e a ausência de uma campanha de comunicação por parte da Prefeitura a fim de orientar as pessoas sobre coleta seletiva, aderirem à proposta e acertarem no descarte. 

Preservar o meio ambiente e ampliar a reciclagem são objetivos que, a priori, contam com a aprovação da maioria dos cidadãos. Mas, é fundamental proporcionar informação para mudar hábitos arraigados. Além disso, a legislação tem pendências e falta regulamentação sobre o uso/distribuição de sacolas plásticas em lojas de roupas e outros tipos de estabelecimentos comerciais. O volume de plástico que descartamos é tão grande que só abordar  as sacolas do supermercado é minimizar a situação crítica. Verifica-se ainda que o foco está direcionado ao lixo domiciliar, que é apenas uma parte do que vai para os lixões.   

Para elaboração deste artigo, li várias matérias na internet a respeito, tenho conversado com consumidores nos supermercados, tenho as minhas próprias dúvidas. Destaco especialmente uma matéria no G1, publicada no dia 07/04/2015, e outra publicada no site da Prefeitura, que demonstra as contradições, erros e as várias perguntas sem resposta:  

1: Ter campanha de comunicação focada em crianças. É relevante impactar o público infantil, tendo em vista que a educação ambiental começa na infância, mas quem faz compras, pega sacolas e arruma o lixo para a coleta são os adultos. Desta forma, precisam ser impactados com frequência. De qualquer forma, não vemos campanha nenhuma. 


2: Considerar que sacolas de lojas de roupas, drogarias, bancas de jornais não são usadas para descarte de lixo é um equívoco. Elas também são utilizadas para descarte de resíduos e vão para o lixo. Temos ainda os sacos de legumes, frutas e verduras que pegamos nos mercados, quitandas e muitos outros lugares que não foram contemplados.         

3: Se a lei foi sancionada em janeiro e entrou em vigor em abril, por que a Prefeitura não usou este período para uma campanha de comunicação direcionada à população para que esta estivesse mais afinada com a mudança? 

4: qual deve ser a ação dos consumidores que usam sacos plásticos grandes para descarte do lixo como eu? (aqueles pretos de 15, 20, 30, 50 a 100 litros)? Como proceder?Existe alguma previsão deles também serem produzidos apenas com matéria-prima descartável? 

5: São Paulo tem “96 distritos e, em princípio, 85 deles têm coleta seletiva”. Como os moradores das regiões sem coleta devem agir? Efetivamente, quantas ruas são beneficiadas?

6: Como a Prefeitura pode estabelecer que “a meta é aumentar o percentual de coleta seletiva em São Paulo de 2% para 100%, até 2016″? Por que não definir objetivos mais realistas e atingíveis, já que o mandato do atual prefeito termina o ano que vem? 

7: Por que permitir que os estabelecimentos comerciais vendam as sacolas plásticas recicláveis? 

Como moradora da capital paulista e profissional de comunicação, concluo que, apesar da implementação da lei, pouca coisa está sendo feita efetivamente para desenvolver a cultura da coleta seletiva na cidade.    

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