Entrevista: Orkut Büyükkökten fala sobre fake news e como as redes sociais podem combatê-las

Entrevista: Orkut Büyükkökten fala sobre fake news e como as redes sociais podem combatê-las

Tem uma geração inteira que entrou nas redes sociais na web pelo Orkut, criada em 24 de janeiro de 2004 e desativada em 30 de setembro de 2014 – 10 anos de conquistas de milhares de usuários e fãs no Brasil. Seu idealizador e principal desenvolvedor foi Orkut Büyükkökten, então funcionário do Google, empresa dona da plataforma, que reinou por muitos anos até que o Facebook tomou a liderança.

O profissional Orkut Büyükkökten continua no mercado, não mais no Google, é claro. Ele criou outra rede social, a Hello Network, que tem como objetivo “conectar pessoas por amizades profundas, não apenas gostos iguais”.

O mundo das redes sociais tem se transformado e associado com a disseminação de fake news, de preconceito, de invasão de privacidade e exposição de dados pessoais – muito diferente da “era Orkut”.

Para falar sobre isso, o Reflexões do Dia entrevistou por e-mail Orkut Büyükkökten para entender como ele analisa o atual estágio das redes sociais. Confira:

 

Na sua opinião, quais foram as principais mudanças nas redes sociais desde orkut.com?

Nossos padrões de uso mudaram drasticamente com os avanços em tecnologia, infraestrutura e celulares. Aplicativos como compras, vídeo, notícias, mídias sociais têm sido. Principalmente, transacionados para dispositivos inteligentes. Costumávamos ter uma geração que foi introduzida nas redes sociais com  orkut.com pela primeira vez. Agora, temos uma geração que usa vários serviços simultaneamente.
 
Há uma enorme quantidade de aprendizado de máquina e IA que foram incorporados por meio de algoritmos que geram nossos feeds. E nossos feeds são arquitetados para gastar mais tempo nos serviços, criar mais engajamento e clicar em anúncios.

 

Como resultado, houve também uma grande mudança nos padrões comportamentais dos consumidores. As mídias sociais eram mais sobre conectar, conhecer pessoas e compartilhar experiências.


Hoje, os usuários foram programados para compartilhar conteúdo para criar supostamente mais engajamento, mesmo que não seja genuíno ou real. Ficar com mais seguidores se transformou em uma competição.

 

No Brasil, temos um passado recente de disseminação em massa de fake news pelas redes sociais, como o WhatsApp, que impactaram situações políticas e sociais. Na sua opinião, o que poderia ser feito para evitar a disseminação de fake news nas redes sociais?

As empresas de mídias sociais de hoje em dia não pensam no bem dos usuários. Elas se concentram no tempo gasto, cliques em anúncios, lucro, marqueteiros, anunciantes e corporações em vez de pensar nos usuários. As redes sociais têm uma grande variedade de tecnologias com um potencial incrível para aumentar a felicidade e criar conexões significativas. Essa tecnologia também pode ser usada para evitar a disseminação de conteúdos falsos. Mesmo assim, essas empresas gostam de contas falsas, fake news e do engajamento gerado pelas fake news, pois elas têm um impacto positivo no tempo gasto e no lucro gerado por seus serviços. Eu acredito, de coração, que podemos usar o poder e a tecnologia para apoiar nossa sociedade, aumentar a felicidade e promover notícias e conteúdo verdadeiros. 

 

As empresas de mídias sociais precisam fornecer a infraestrutura, ferramentas e equipes de suporte necessárias para promover um ambiente saudável. As notícias devem ser disseminadas com base na reputação da fonte, não em quanto a fonte está disposta a gastar para divulgar seu conteúdo.

 

Na vida real, quando encontramos alguém pela primeira vez, essa pessoa é um estranho, que se torna um conhecido, depois um amigo e, talvez, um amigo próximo ou melhor amigo. A quantidade de comunicação, confiança e reputação dessa pessoa aumenta com o tempo. Não acreditaríamos cegamente em um estranho que acabamos de conhecer. Nós deveríamos imitar essa reputação que existe na nossa sociedade em serviços on-line também. Nós construímos o hello pensando nessa reputação e criamos um sistema de gerenciamento de reputação complexo que chamamos de Karma. Isso permite que o conteúdo seja amplamente disseminado apenas se for de qualidade. A qualidade deve ser conquistada na comunidade, fornecendo, contribuindo e interagindo com outros usuários e conteúdo de maneiras saudáveis. 

 

Facebook é um grande império no segmento de mídia social. Como a crise e o boicote impactam o mercado de redes sociais para outras redes sociais, como a Hello Network?

A crise e o boicote não afetam a Hello Network. Não temos notícias falsas. A Hello é sobre compartilhar conteúdo autêntico, genuíno e real. Projetamos uma arquitetura para a Hello para tornar extremamente difícil postar e espalhar notícias falsas.


Como as redes sociais podem combater as notícias falsas?
Precisamos usar o poder da tecnologia para otimizar as redes sociais para unir as pessoas e aumentar a felicidade do usuário. Hoje, as redes sociais focam na viralidade, no tempo gasto e na publicidade. As pessoas são capazes de usar sua riqueza e poder para distribuir conteúdo amplamente, mesmo que seja falso, e isso por causa da vulnerabilidade no design.

 

Se você tem um serviço otimizado para receita, espalhar conteúdo para um grande público será um bom resultado, mesmo que o conteúdo seja falso e seja prejudicial. As redes sociais devem ter o usuário como prioridade máxima. Também precisamos adicionar as ferramentas necessárias para monitorar e filtrar conteúdo falso. Idealmente, isso seria uma combinação de humanos e computadores.


Na sua opinião, o que são fake news?

Fake news são simplesmente informações que não estão corretas. São fabricadas como mentiraa. Muitas vezes, notícias falsas são criadas para desinformar ou enganar os leitores. Como vimos, podem afetar eleições políticas, segurança pública e saúde mental.


Há uma discussão de que a liberdade de expressão está sendo censurada. Quais são as diferenças entre moderar conteúdo e censurar nas redes sociais? 
Precisamos permitir a moderação de conteúdo, pois ela nos ajuda a combater e remover desinformação e notícias falsas. Também precisamos moderar conteúdos eticamente errados ou prejudiciais à sociedade, como texto, imagens, vídeos de tortura animal, abuso infantil ou conteúdo que promova violência, crueldade ou atividade criminosa.

 

Devemos permitir a liberdade de expressão, desde que ela não prejudique outros indivíduos ou nossa sociedade. Conteúdo como as fake news que afetam uma eleição, promovem a violência ou o preconceito, anúncios de medicamentos prejudiciais que podem causar a morte de pessoas e conteúdos que promovem a automutilação ou suicídio devem ser removidos. A fonte das notícias importa, com certeza. As fontes respeitáveis, fontes em que os leitores confiam, fontes que existem há bastante tempo, devem ser acomodadas melhor e priorizadas. 

 

As mídias sociais são um dos lugares mais essenciais para compartilhar nossas experiências, ter discussões genuínas e consumir informação e notícias. Os usuários devem promover ter o direito de expressar suas opiniões, mesmo quando são controversas ou críticas, mas não as falsas.

 

Vamos todos usar as mídias sociais e notícias para espalhar bondade, amizade, compaixão e amor.

 

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