Do Pássaro ao Peixe: mudanças no Twitter e o poder das Big Techs
*Por Clóvis Teixeira Filho
Desde que Elon Musk assumiu o controle do Twitter, muitas mudanças foram anunciadas. Algumas nasceram, morreram e ressuscitaram, como a própria compra da empresa. O comunicado mais recente de Linda Yaccarino, CEO, revela a troca de nome e logo da mídia social para X, em conformidade com as demais organizações do grupo X Corp. As mudanças, no entanto, deixam rupturas nos vínculos com uma marca adorada pelos seus consumidores e expõem o poder das Big Techs, na crescente digitalização das nossas rotinas.
O logo do pássaro azul, utilizado a partir de 2010, guardava homenagem despretensiosa para o jogador de basquete Larry Bird, mas foi potente em suas significações para usuários da plataforma. A marca se tornou símbolo de liberdade, livre circulação no ambiente digital e até uma certa rebeldia contra as grandes empresas de tecnologia que dominavam outras redes sociais -associações contidas na simplicidade do pássaro azul. A junção do ícone com a cor ainda gerava possíveis interpretações como: inteligência, tecnologia, rapidez e flexibilidade, contato com o metafísico, a possibilidade de olhar a rotina por outro ponto de vista – um verdadeiro voo.
A proposta atual, o X, com origem vinculada à representação do peixe, também é rica em interpretações, como abundância e prosperidade, mas pode trazer confusão em comparação à marca anterior e ao conteúdo do Twitter. Com a sugestão de livre expressão, a pornografia transborda em diferentes perfis da mídia social. Pornografia representada em língua inglesa também pelo X. O inesperado, a incógnita a ser descoberta, a eliminação, a negação, o mistério e a inovação são outras significações derivadas. Um risco para uma marca já consolidada em diferentes regiões, mas que parece se desmanchar, diante do guru tecnológico e suas decisões centralizadas.
Os usuários atacaram a modificação não negociada, sendo um dos tópicos mais comentados, aproveitando essa bagagem de sentidos controversos. Aparentemente, a promessa do novo proprietário de ampliar a interação, não corresponde às atuais ações, que envolvem a limitação de visualizações, plano de assinatura e cobrança de perfil verificado.
É importante acompanhar essas transformações em uma mídia social capaz de influenciar a circulação de diferentes pautas, justamente pelo grau de liberdade transgressora de sua origem e o poder de síntese. Agora, como parte de uma gigante da tecnologia, a movimentação busca genuinamente ampliar a monetização, mas também reabre as discussões sobre a centralização das mídias, acesso a dados e conteúdos potencialmente perigosos em circulação, em um ambiente ainda nebuloso de regulação. Momento de fissura aproveitado pelos concorrentes em um embate direto.
Por enquanto, tudo parece um palco de disputa ingênua e mudanças superficiais, tratadas pelos bilionários como uma luta entre gladiadores midiáticos. Contudo, não vamos nos esquecer que o espaço digital, além de rentável, envolve cada vez mais a nossa rotina e a interação entre diferentes grupos, em todas suas possibilidades negativas e positivas. Por isso, acompanhar de perto os mergulhos desse peixe e seus concorrentes na ecologia digital é cada vez mais relevante.
* Clóvis Teixeira Filho é Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo e Coordenador de Pós-Graduação na Área de Comunicação do Centro Universitário Internacional UNINTER.
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