Os recordes inúteis na sociedade do espetáculo
*Por Chris Santos
A sociedade do espetáculo é conceito discutido pelo filósofo francês Guy Debord, uma organização social marcada por relações sociais mediadas por imagens, pelo consumo, pela necessidade de eventos midiáticos, da vida como representação – onde quase tudo é exibido o tempo inteiro e cada vez mais. Um dos sintomas desta sociedade é a necessidade crescente das pessoas de satisfazerem desejos superficiais e de atraírem para si os holofotes da mídia.
Criado em 1951, a publicação Guinness World Records é, em minha avaliação, um exemplo da espetacularização exagerada, que tem estimulado pessoas que desejam bater recordes inexplicáveis, nem um pouco relevantes e que colocam vidas em risco. Este é um livro que funciona como um gatilho e incentivo aos absurdos.
A busca por recordes inusitados é, geralmente, motivada por um desejo de ser notado, de ser protagonista do espetáculo, mesmo quando a “fama” dura pouco tempo. O suposto recordista está buscando atenção, geralmente sendo “aplaudido” por tentar algo novo. Mas o fato é que esses recordes não possuem nenhuma importância real. Temos vários casos de pessoas que morreram ao tentar quebrar recordes.
Por exemplo, já foi registrado que alguns homens tentaram alcançar recordes como “beber a maior quantidade de álcool em um determinado período de tempo”, tem quem esteja no livro por ter a habilidade de arregalar os olhos mais do que o normal e quem frequentemente tenta bater o recorde para coisas como “comer a maior quantidade de hambúrgueres em um período de tempo”. Recordes positivos como a “maior quantidade de doações de sangue em um determinado período de tempo” ou “maior quantidade de itens ou recursos arrecadada em uma campanha de caridade”, por outro lado, passam desapercebidos.
Enquanto algumas pessoas gastam tempo e energia em “bater recordes inúteis”, outras usam seus talentos para transformar a vida das pessoas e, acredito, que é nessa linha que devemos focar nossas energias e capacidades.
Existem cientistas e pesquisadores, por exemplo, que gastam seus dias e conhecimento procurando formas de melhorar nossa vida. Eles trabalham duro para descobrir formas de curar doenças e encontrar soluções para diferentes problemas: mudanças climáticas, reciclagem, energia limpa, inclusão social etc. Essas são as pessoas que devemos valorizar e incentivar. Elas que deveriam estar nos holofotes.
Refletir sobre o que realmente importa e escolher o que queremos valorizar, no lugar de dar atenção a esses recordistas, são atitudes relevantes para evitar que nossa vida seja regida pela sociedade do espetáculo.
*Chris Santos é uma profissional com mais de 30 anos de experiência em comunicação corporativa, assessoria de imprensa e marketing digital. Com bacharelados em Relações Públicas e em Ciências Sociais, pela USP; especialização em Gestão de Processos Comunicacionais (USP); MBA em Gestão de Marcas (Branding), pela Anhembi-Morumbi; e mestre em Comunicação e Política, pela UNIP. Tem se dedicado ao estudo de tendências nas áreas de marketing digital, jornalismo, comunicação e política e tecnologias da comunicação e informação.
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