Repórteres Sem Fronteiras (RSF) lança edição 2025 do Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa

Repórteres Sem Fronteiras (RSF) lança edição 2025 do Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa

Publicado todos os anos no marco do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, o índice se consolidou como uma referência global

A fragilidade econômica dos meios de comunicação é uma das principais ameaças à liberdade de imprensa em 2025. É o que revela o Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa, divulgado globalmente nesta sexta-feira (2) pela organização internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF). O indicador econômico foi o que mais caiu entre os cinco critérios avaliados, atingindo um nível crítico sem precedentes.

Publicado anualmente no marco do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (3 de maio), o índice avalia as condições para o exercício do jornalismo em 180 países e territórios. Desde sua criação em 2002, o Ranking tornou-se uma referência global para governos, organizações internacionais e veículos de comunicação. O índice é composto por cinco indicadores: político, social, econômico, marco legal e segurança. A pontuação de cada um determina a posição relativa dos países no ranking.

Neste ano, a queda acentuada no indicador econômico evidencia a crescente vulnerabilidade dos meios de comunicação, divididos entre a garantia de sua independência e a luta por sua sobrevivência econômica. Segundo dados coletados pela RSF, em 160 dos 180 países analisados, os meios não conseguem alcançar estabilidade financeira e, em quase um terço dos países do mundo, muitos estão fechando devido às persistentes dificuldades econômicas.

A edição 2025 do Ranking revela ainda que, pela primeira vez, a situação da liberdade de imprensa tornou-se “difícil” em escala global. A pontuação média de todos os países avaliados caiu abaixo da marca de 55 pontos — patamar que caracteriza uma “situação difícil”. Seis em cada dez países viram sua pontuação diminuir no Ranking deste ano. Segundo o índice, as condições para a prática do jornalismo são precárias em metade dos países do mundo e satisfatórias em menos de um quarto deles. Mais da metade da população mundial (56,7%) vive em um país em que a situação da liberdade de imprensa é considerada “muito grave”.

“O jornalismo nas Américas enfrenta desafios estruturais e econômicos persistentes: concentração da mídia, fragilidade dos serviços de informação pública e condições de trabalho precárias. E as consequências são graves. A pressão financeira leva alguns meios de comunicação a atender a interesses políticos ou comerciais, enquanto outros, por falta de recursos, limitam-se a reproduzir comunicados de imprensa oficiais. Em ambientes hostis, a autocensura torna-se um reflexo de sobrevivência. À medida que o jornalismo perde seu papel de informar sobre questões de interesse público, a propaganda e a desinformação ocupam esse vazio, colocando em risco a estabilidade democrática”, Artur Romeu, diretor da RSF para a América Latina.

Liberdade de imprensa nas Américas

De acordo com o Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa de 2025, 22 dos 28 países da região registraram queda em seus indicadores econômicos. O México (124º), o país mais letal da região para jornalistas, perdeu três posições, em parte devido à crescente fragilidade da sustentabilidade do seu ecossistema midiático — o indicador econômico do país registrou a quarta maior queda da região. Nos Estados Unidos (57º), o segundo mandato de Donald Trump provocou uma deterioração preocupante da liberdade de imprensa. Na Argentina (87º), o presidente Javier Milei estigmatizou jornalistas, desmantelou a mídia pública e utilizou a publicidade estatal como instrumento de pressão política. O país perdeu 47 posições em apenas dois anos. O Peru (130º) caiu 53 posições desde 2022 em razão do assédio judicial, das campanhas de desinformação e da crescente pressão sobre a mídia independente. El Salvador (135º) mantém sua trajetória de queda: 61 posições perdidas desde 2020. Sob a presidência de Nayib Bukele, a liberdade de imprensa vem sendo enfraquecida pela propaganda e pelos ataques sistemáticos aos meios de comunicação.

Com um salto de 47 posições desde 2022, O Brasil (63º) continua sua ascensão após a era Bolsonaro. Essa evolução reflete a percepção de um clima menos hostil ao jornalismo e o país se destaca como um dos poucos a melhorar seu indicador econômico. A Colômbia (115º), por sua vez, mantém uma pontuação geral estável. A política do governo em relação à imprensa continua ambivalente, oscilando entre o apoio a um cenário midiático pluralista e o discurso frontal do presidente Gustavo Petro em relação aos grandes meios de comunicação, em um contexto de persistentes ameaças à segurança contra jornalistas.

Na parte mais baixa do Ranking, a Nicarágua (172º) torna-se o país pior classificado na América Latina – atrás de Cuba (165º). O regime Ortega-Murillo desmantelou a mídia independente, retirou a nacionalidade de muitos jornalistas e forçou centenas ao exílio. A Venezuela (160º) continua tendo um dos piores desempenhos da região, entre censura generalizada e perseguição judicial. No Haiti (111º), o colapso do Estado e a violência de gangues transformaram o jornalismo em uma profissão de alto risco.

Sobre RSF

A Repórteres Sem Fronteiras (RSF) é uma organização internacional sem fins lucrativos que trabalha pelo jornalismo livre, independente e plural em todo o mundo. Fundada na França em 1985, a RSF conta atualmente com escritórios regionais em todos os continentes e uma rede de 130 correspondentes espalhados pelo mundo. A organização tem status consultivo junto às Nações Unidas, UNESCO, Conselho da Europa e Organização Internacional da Francofonia (OIF). Para mais informações, acesse: https://rsf.org/pt-br

 

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