Momento de reflexão sobre o crescente estrangeirismo em nossa comunicação
*Por Chris Santos
O inglês é uma língua importante e universal, sim. Em um mundo cada vez mais globalizado, é crucial e valorizado dominá-lo. Porém, a disseminação exagerada de termos em inglês em setores como Recursos Humanos, Publicidade e Comunicação no Brasil, resulta em um entendimento parcial ou até mesmo total desentendimento de certos contextos, criando assim uma espécie de “elitismo linguístico”. É o que se classificou de “estrangeirismo”, entendido como o uso de palavras ou expressões provenientes de outras línguas em outro determinado idioma.
As palavras em inglês são bonitas e até podem transmitir um certo glamour, mas não podemos deixar que isso ofusque o valor da nossa língua natal. O uso desnecessário de tais termos acaba empobrecendo e simplificando o nosso idioma, além de criar uma valoração excessiva do inglês, ao ponto de considerá-lo superior.
O uso da língua inglesa deve ser encarado como um instrumento de comunicação internacional e não como um substituto para nossa língua nativa em contextos nos quais ela é plenamente capaz de expressar as mesmas ideias. Vamos dar o devido valor à nossa Língua Portuguesa, que é um dos idiomas mais falados no mundo, cheio de beleza, expressividade e riqueza cultural.
Termos como marketing, hot dog, brainstorm, coffee break, backup, check-in, entre outras, estão em nosso dia a dia faz um bom tempo. É possível pararmos para analisar e verificar quais existem similares em português que se adaptariam melhor no uso.
A Língua Portuguesa é viva e tem espaço para inclusões. Entretanto, esse movimento não para e chegamos ao exagero de substituir palavras usuais por termos em inglês sem qualquer necessidade. Mas se parece como um esforço de “falar difícil” ou deixar a conversa difícil de ser entendida. Até hoje, quando trabalhei em uma multinacional e muita gente usava o termo “asap”. Fiquei dias sem entender, até que descobri que era a abreviação de “as soon as possible” (o mais breve possível).
Atualmente, integração de funcionários virou onboarding; educação continuada é lifelong learning; demissão virou layoff, nada mais é do que o temido corte de pessoal; upskilling significa qualificação; reskilling é requalificação; reforma da casa virou retrofit. Mas, será que precisamos da incorporação destes novos termos em inglês quando temos palavras em português tão claras, diretas e de fácil entendimento?
Seria importante que as empresas, escolas e a sociedade em geral, começassem a refletir sobre o uso excessivo de termos em inglês. Precisamos parar de associar a aderência a uma cultura estrangeira diretamente com modernidade, sofisticação ou competência. Ser verdadeiramente moderno e competente é saber respeitar e valorizar a própria cultura, sem deixar de lado a universalidade.
Adotar um termo estrangeiro quando não temos um correspondente em nossa língua é até compreensível, mas substituir palavras do Português que já são de domínio público por outras em inglês têm mesmo alguma necessidade? É essencial buscar equilíbrio. A adequada utilização de estrangeirismos pode enriquecer o vocabulário, desde que seja feita com moderação e considerando sempre a clareza da comunicação.
*Chris Santos é uma profissional com mais de 30 anos de experiência em comunicação corporativa, assessoria de imprensa e marketing digital. Com bacharelados em Relações Públicas e em Ciências Sociais, pela USP; especialização em Gestão de Processos Comunicacionais (USP); MBA em Gestão de Marcas (Branding), pela Anhembi-Morumbi; e mestre em Comunicação e Política, pela UNIP. Tem se dedicado ao estudo de tendências nas áreas de marketing digital, jornalismo, comunicação e política e tecnologias da comunicação e informação.
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